sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Ritmo, Amores e Velocidade


Se tem uma coisa que não combina comigo é a tal da ataraxia. Já nasci agitado, com o pé embaixo e o pinto em posição de tiro.

Sou roqueiro, mas gosto da vibração de outros gêneros que contenham um arranjo carregado no baixo e na bateria. Quero, é mesmo, ver o papelão do alto-falante estrebuchar, estourar.

A energia do ritmo é adrenalinamente alucinógena. Sinto o sangue correr mais rápido, zoar dentro das artérias. Preciso sentir a música com o corpo inteiro. Como se reverberasse e voltasse pelos poros, formando uma espécie de espírito exterior. Esta aura então me comanda, me inspira, se apodera das volições. A começar pelo pé, acalcanhando a batida. Dançar, então, é o sacramento da comunhão.

Não posso dizer se amei. Ao menos, acreditei que sim. Desde que houvesse paixão. Não digo desse foguinho de palha, comum, que não cozinha. Tem que ser daqueles que fazem a pressão da panela explodir. Não fosse full-time, não o seria, também.

Vivi todos os quereres engasgando com o coração, com tijolos gelados no estômago. Do tipo em que se atende o telefone e se sente – sempre! – um choque, uma eletricidade eufórica. Isso, com o celular, nem tem mais a mesma graça. Metade da emoção vai embora com o reconhecimento da chamada.

Mas é na estrada que enfio, de vez, o pé na jaca. Não curto partidas nem chegadas. É o meio, esse intenso meio, que me fascina. Com curvas, melhor ainda. Não sou porra-louca, conheço os limites. E me excita tangenciá-los. No desenho da pista, no dial do rádio e nas coxas que vão no banco do carona.


Nenhum comentário:

Postar um comentário