segunda-feira, 27 de abril de 2009

Abril, Meu Abril Brasileiro

                 Os sociólogos afirmam que as Eras Históricas encurtam numa progressão geométrica. Estendendo este raciocínio aos fatos relevantes ocorridos em determinadas épocas, incorro na presunção de apontar que o Abril brasileiro tem assumido o estigma de nos abobalhar. Sem muito esforço, revejo que em 1500 fomos subjugados a um reino transoceânico, em 1792 martirizaram um doidivanas, em 1960 inaugurariam uma Capital, onde já os tijolos iniciais possuíam o vício de aerotransportar-se às custas do erário, e, em 1964, no after day, sucumbiríamos sob a botina. Para sacramentar, deram ao descalço índio o 19. Ironicamente, três dias antes da pascal descoberta.

                 O 2009 não passaria incólume. Numa façanha televisiva, nós, meros espectadores, assistimos ao inusitado. Eis que a excelsa corte da magistratura, qual deveria ser o baluarte da dignidade e da justiça, não passa de uma fanfarronada, de uma grotesca imitação de programas de ratinhos, onde gatos e gatunos se travestem com a toga. Um descalabro espetacular diante das câmeras, com atores cometendo toda a sorte de bizarrices injuriosas, sem, contudo, tropeçar no que tange à calúnia. Estaríamos vislumbrando a ponta de um iceberg? Eu não ousaria macular a honra da água, em seu estado mais primitivo e puro. Temos aí a ponta, sim, mas de um cagalhão, e que pouco destoa do lodo que lhe arremete à tona.

                 Tanto Mendes, quanto Barbosa, são ofídios do mesmo ninho: ambos foram Procuradores da República. O primeiro é cria do FHC. O outro, do Lula. Indicações. Vejo, perplexo, magistrados de ilibada conduta pronunciarem-se: não há nada que se possa fazer. O colégio daqueles superiores juízes não possui, sequer, poder censório. Caberia, no entanto, ao cidadão comum, a iniciativa de propor ação junto ao Ministério Público, fulcrada em diplomas que tratem da falta de decoro ou, com mais rigor técnico, da improbidade administrativa. Mas quem seriam os julgadores, caso a petição fosse acatada? A resposta é uma piada, refinado humor negro: o Senado. Este é o preço da democracia.

                 Enquanto subsisto aos malfadados desígnios dos presidentes por mim não escolhidos e porquanto este dito estado democrático ainda me garanta a liberdade de expressão, me avoco, então, o direito de assim interpretar a sigla: Súcia Temerária e Funesta.

                 Ah, e a Vossa Excelência que acaso ledes e me julgais por estas supremas linhas, vos direi, com toda a liturgia e pompa: ide tomar em vosso cu.

                 E me respeite!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Xico



                 Domingo morreu Xico Stockinger, oitenta e nove, escultor. Austríaco, naturalizado brasileiro, preferiu os Pampas. Quem conhece? Ouvi alguém dizer 'eu'? Ah, você é porto-alegrense, não é? Ou, no mínimo, gaúcho.

                 Xico possuía a genialidade do essencial. Fundia seus próprios bronzes num cadinho de estimação. Gostava de explanar o processo, invariavelmente com um 'não tem mistério'. Mimado pela burguesia, vivia em casarão da Zona Sul, vizinho das vaidades quais não cultivava. Ao contrário, elas é que vinham paparicá-lo — talvez um generoso desconto. Eis a diferença: burguesia pechincha, aristocracia concede. Não é incomum encontrar um Stockinger, um Prado, na antessala de patuscos advogados.

                 O tosco ateliê constituía verdadeira afronta à distinção internacional e, na espontaneidade dos simples — mas raros — diria:
"— Vi, numa revista, uma reportagem sobre a baixa estatura de um povo, causada pela fome. Aí fiz esse gabirus de um metro e trinta, tamanho natural. O artista tem que mostrar essas coisas, isso que acontece por aí e ninguém faz nada".

                 A paisagem da urbe muda. A todo instante, a ganância dos construtores quer, ávida, impor. Agora é um 'Pontal do Estaleiro', grandes prédios, shopping centers e unidades habitacionais de luxo. Que façam. Há de faltar Stockingers para decorá-las.

                 Não o conheci, pessoalmente. Por certo não lhe acrescentaria nada e isso me deixa a consciência tranquila. Mas sentirei a falta. Não da obra ou do autor. É a inquietude de saber que, lá, num galpãozinho, entre as treze e as dezoito horas — vinte, no verão — morre, aos poucos, mais um pouco, Porto Alegre.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Canção a Olavo Bilau

Caralhinho não se atreva
A querer meter na bunda
Pretensão de tão longeva
Fica além do que aprofunda

A boceta não tem dente
Mas castiga na medida
Não aperta o pau da gente
Nem carece de cuspida

Se a donzela é recatada
Das que tomam limonada
É melhor ficar esperto

Segurou merda travada
Pra cagar de madrugada
Se borrar vai quase certo

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Bobo

Sou tão bobo
Que até boboreio
O fel por bom-bocado

Sou tão bobo
Que me boboro
Com teu riso mais guisado

Em estepes rarefeitas
Ufano-me tal lobo:
Pensa que não sou bobo?

Por que o primeiro?
Por que o de abril?
Culpa do cara da bombril?

Até aquele fim de março
Se fui feliz algum dia
Eu era bobo e nem sabia