domingo, 17 de outubro de 2010

"33"

Não querendo ser impertinente, mas, já o sendo, será que eles irão registrar o "69", também?


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Carteado

– Mas vai-te, calavera! – e descartou valete de bastos por cima da pilha, como quem passasse o fio do três-listras em goela de castelhano.

Envidraçados, os olhos varavam as cartas, engoliam oito ou nove cadeiras com mesa, com a jogatina e com tudo o mais, transpassando quadros, o macho-e-fêmea das paredes. Indo desanuviar nalgum descampado. Nalgum capão de magarefe. Em alguma sanga cristalina, transbordante de jundiás. Ou meramente se deixando quedar à acolhida da paineira, na crista da coxilha. Vaguearia pelo marulhar dos capins-de-nossa-senhora – quaisquer outros resgates telúricos, que das bandas do Caverá, então, lhe apaziguassem.

Depois, da coima arrecadada, se ia a indiada buscar bolo de fubá tinindo, pra lambuzar na manteiga. Eram as ansiadas tardes do sétimo dia, zunisse ou não Minuano.

De pouca palavra e pouco dizer, dele só se perceberia quando rangessem as tábuas do assoalho, pisado lento, decidido. Este quase mutismo guardava saber. Não haveria revolução. Nem diz-que-me-diz-que. Respeito é coisa que se traz na envergadura e havia de sobra, disso, naquele taura. Precisava nem corneteiro anunciar pra saber que namoro não paga hora-extra, que a hora é certa na casa da honradez. Convocado, manhã seguinte era ordem me apresentar pra lide: rato da cidade assando costela na vala.

...

– Tu não vais enterrar um asno! Dois palmos e basta!

Ralhava sério, mas, no imo, mofava do pouca-prática. Crepitasse braseiro, que já recolhia tição e, desvencilhada camisa, fustigaria as paletas:

– Ah, que me judia esse cobreiro!

...

Pois foi numa dessas sabatinas que abandonou mais cedo, estancando à roda, mãos apoiadas em ombros do par quase aliançado:

– Meus filhos – pausaria, até obter totalidade – vocês estão criados. Vida feita. Chegou hora de seguir a minha.

Embaralhou ases e copas. Deu de mão, sem bater. Alçou.

Desta vez, sem blefar.

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À memória de Renes, índio guapo e avô de meu filho.


mínimo glossário

Coima, s.f. Quota fixa, de pequeno valor, que se paga para participar de uma rodada de carteado, não restituível em caso de desistência e que passa a integrar o montante das apostas. Espécie de multa paga por criadores de gado, por danos causados à propriedade alheia, de onde se aplica, à circunstância, o mesmo princípio indenizatório, mantida a denominação. É comum se convencionar utilizá-la para custeio ou ressarcimento dos comes e bebes servidos durante e ou após a sessão da jogatina.

Minuano, s.m. Vento sazonal, que sopra forte e initerruptamente, em virtude do deslocamento de grandes massas polares durante o inverno meridional. Não é rara a referência ao ruído provocado por esta corrente, quando obstaculizada por galhos, postes e cercas, ou quando da sua passagem por frestas nas áreas construídas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Cabeças Pensantes

Tenho duas cabeças pensantes

A de cima pensa que pode
A de baixo pensa que fode

Mas na hora de dar o cu pro vaso
O conceito é reto e raso

A de baixo fica por cima
A de cima fica por baixo

E me limpo com papel Cervantes

sábado, 2 de outubro de 2010

Ménage à Quatre Já é Suruba

Se as pesquisas registram menos de um por cento para os demais candidatos, por que as redes teledifusoras insistem em trazer aquele partido com nome de inseticida para os debates? Deve ser por uma questão de estética, uma espécie de simetria, onde o mediador ocupa o centro, ou, melhor ainda, que somente elas o ocupem.

O engraçado é que o Plin tem a cara e a voz daqueles pernilongos dos comerciais insetocidas e bem estamparia uma embalagem. Quem lembra dos espirais Bôa Noite? Então, cada um em seu quadrado púlpito, ficam rogando pragas, a Cucaracha rechonchuda, o Mosca mesma-merda e a Gafanhota reciclada. Para receberem jatos piretrinados de quem? Ora, mas de um neocanhotista? Traidor!

Ou, ainda, será – ranço machista – a inadmissibilidade de maioria feminina nos desígnios? Envidam o equilíbrio das forças sexuais? Ah, isto me cheira, realmente, a sexo e, de repente, vislumbro a Diu pagando um boquete pro Plin. Este, por sua vez, busca, sofregamente, mamar os diluídos peitinhos da Morena. Que bate uma pro Zé Sé. Que, por sua vez, enraba a Diu. Ainda bem que a putaria pelo poder passa num horário em que as criancinhas já deveriam estar no terceiro sono.

Só sei que no dia da sagrada folga do trabalhador, se as minhas condições de saúde assim o permitirem, serei arrancado do meu lar de aluguel – mal alimentado no corpo, mas muito bem no espírito – para enfrentar, com ceticismo, o sigilo do voto. Rezo para que, no caminho, não seja assaltado. Ou que, o sendo, o bandido não fure a femoral do meu único meio de transporte e me deixe, por compaixão, ao menos, um documento com foto.

O salário? Deus lhe pague!