segunda-feira, 25 de março de 2013

Buraco Negro

Inseriram ogivas nucleares nos meus poros. Sinto eclodirem Hiroshimas e Nagasakis por toda a extensão do território corporal. A genética do pensamento sofre, a cada instante, mutações disformes, que são rechaçadas numa compreensível repulsa. Não sou mais humano. Nem desumano. Perdi a noção de humanidade.

A torrente ácida lava meus neurônios como se fossem grãos de açúcar refinado. O cianeto invade e se aloja nos alvéolos. Respiro com dificuldade; transpiro em abundância. A grama se parece com estalactites e perfura o meu couro cabeludo. O mar avança acima da linha do horizonte e espalha nuvens de espuma. Uma esquadrilha de moscas pousa nas crateras das minhas feridas.

Vejo homens pretos, de cabeças amarelas. Possuem corações amarelos, com estáticas válvulas pretas. Ensacam-me e me lacram. Tudo, agora, é uma silente escuridão.