segunda-feira, 25 de março de 2013

Buraco Negro

Inseriram ogivas nucleares nos meus poros. Sinto eclodirem Hiroshimas e Nagasakis por toda a extensão do território corporal. A genética do pensamento sofre, a cada instante, mutações disformes, que são rechaçadas numa compreensível repulsa. Não sou mais humano. Nem desumano. Perdi a noção de humanidade.

A torrente ácida lava meus neurônios como se fossem grãos de açúcar refinado. O cianeto invade e se aloja nos alvéolos. Respiro com dificuldade; transpiro em abundância. A grama se parece com estalactites e perfura o meu couro cabeludo. O mar avança acima da linha do horizonte e espalha nuvens de espuma. Uma esquadrilha de moscas pousa nas crateras das minhas feridas.

Vejo homens pretos, de cabeças amarelas. Possuem corações amarelos, com estáticas válvulas pretas. Ensacam-me e me lacram. Tudo, agora, é uma silente escuridão.


Um comentário:

  1. Que texto perfeito, Jarbas! Não tem como não deixar de lembrar da essência de Leminski em suas linhas fortes feitas de palavras. Mas, e aí, continua frequentando o Bar do Escritor ou o que era antigamente tá tudo detonado? Eu só fico mais no face agora! Até criei fan page! rs Olha o link aí, se aparecer uma imagem de bomba atômica é só compartilhar! rs http://www.facebook.com/pages/Pode-n%C3%A3o-pode/147442432099511?ref=hl

    Abraços! =D

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