quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ôla!

"Kan't, Kan't, pin gente..."
martini d'avila

Mín, Silverberg, Joshua
Têrr êstu-dáda pá-stânde
A pérrfil óf cérrdas polídigos

Quând mín fálarr pérrfil
Sêrr pérrfil mêss-ma

Nática óf nótsing
Fór Íds, Êgos
Niuquíds
Únd mái nêgos

Êu ólharr a pérrfil óf Êre-Náice
Únd pênt-sár, pênt-sár, pênt-sár...

Acórra, cônclu-írr
Que êsde môça têrr
Ún cábet-sôrra
Óf coríla

Ízit máu únd pôm

Sêrr máu
Pôrrque mácacas córdos
Quêbrrar cálhos
Bát ónli fór iór áun fíll-hóts

Êm cômpen-sêitcho
Br-rézident bóde dalla
Fór brêzent tú Místar St'alôun



Rê-rê

Nô-iê

Únd panána

4você

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Sapateando no Pau

Hoje, aqui nos Pampas, é feriado. Comemora-se a Revolução dos maltrapilhos. Diz o hino gaúcho que a data é precursora da Liberdade, onde infiro que ela deva, então, começar na Estação das Flores. Independentemente (será que me antecipo?) das piadas pouco inteligentes acerca do modus vivendi et operandi dos nativos, quais grassam a orbi brasiliensis, tenho outras visões escabrosas.

Ainda vive, perto dos noventa, a lenda personificada em Paixão Côrtes, um tradicionalista que ousou corrigir o nem tão veríssimo Érico. Ele e o escritor prestaram consultoria à produção cinematográfica da trilogia O Tempo e o Vento. Foi daí que o Érico se viu em bombachas apertadas, quando Paixão apontou a inexistência de gaita àquela época, qual fora substituída, a contento, por uma viola.

Também, conforme Paixão, o Capitão Rodrigo jamais teria saído vivo do bolicho, acaso, na realidade, tivesse se espalhado, ufanando, aos quatro ventos, nos pequenos dar de prancha e nos grandes dar de talho.

O ideal Farroupilha creu no Iluminismo, o que, poucas décadas além, conferiria à Fortaleza o cognome de Cidade Luz. Aqui, durante os embates, se produziu um grupamento de lanceiros, arregimentado este só entre afro-espoliados. Heróis a cabresto.

Pois dia destes, adentrando um megabolicho para cambiar alguns caraminguás por escassa ração humana, me deparo com um loirão pilchado. A figuraça tinha a estatura de arrancar, de raspão, o batente de porta qualquer. O complexo arquétipo desfilava numa alegoria, onde o rabo-de-cavalo sobressaía o chapéu, desnudando a orelha que ostentava um brinco dourado. Da cintura para baixo, bombachas e alpercatas e, para completar, um lencinho colorido ao pescoço, disposto a la Clodovil.

Terra de Anas Terras, já não és mais reduto de separatistas. A Liberdade enfim chegou. Com as flores da Primavera, ainda hei de ver a prenda popozuda rebolar a chula, se agachando até roçar a vara estirada do guerreiro. Sem com Paixão.


mínimo glossário

Bolicho, s.m. Pequeno armazém de gêneros alimentícios, especiarias, fumo e apetrechos de montaria, que também serve bebidas, comum na região da campanha. Var.: boliche.

Chula, s.f. Dança folclórica gaúcha, onde um homem caracterizado executa movimentos de sapateado por sobre uma lança deitada ao solo, por toda a extensão desta e cuidando para não tocá-la, produzindo som ritmado com suas botas e esporas.

Pilcha, s.f. Apelido para dinheiro. Por extensão, indica a condição daquele que tem recursos, inclusive, para bem se vestir.

Pilchado, adj. Endinheirado. Por extensão, indica o bem vestir daquele que tem a pilcha.

Prenda, s.f. Moça ou mulher com boas qualidades; designativo afetuoso que é dado à.

domingo, 19 de setembro de 2010

Barraca Armado

Nasci no Abará dos Xaxado, onde o diabo perdeu as bota, as pimenta e o camarão, e o ar se faz muntu oxidrânio. Sô membro dos Armado, familha que nunega fuego. Me batizaro Georje. Inté gosto. Me sinto meio aparentado c'o Jorge, o Amado, e aquele lá das gravata – cumé mêismo? – ah!, o Armânio.

Mãinha me explicou os porquê do Gê: ela tinha mais amores pelo Jota, mas vai que na hora da chamada pra merenda, o antepasto só vaya inté antes de? Adespois, o gringo que me fez pagou com nota falsa. Nem posso me dizê filho duma égua, se a burra é que foi barranqueada.

...

– Nhô Ar, por que tu não escreve livro?

– Screvo não, nem leio. Mas teve aí uma chusma de estudante quereno gravá meus contado, dizeno que era bom pras literatura. Preceio não, pois tirante Nossa Senhora Soninha Toda Pura, tutto que rima com 'ura' num presta. Vê aí, ó: usura, ditadura, capitura, rapadura...

– Rapadura?

– Cundunum quebra, num careia?

– E a Epifânia?

– Morreu, queném erva rastera que fica por debaixo das charqueada. É a vida, sô. O que num acrescenta, desalenta. Um pitéu dos mais grã-fino. Só de renda o abadá da prenda tinha ano e meio de salário do Serra.

– Isso é crítica política?

– É e nué. Agora sô barraquêro e só posso metê a pexêra é pra abrí os coco verde.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Meu Nome É Lindsei

Meu nome é Lindsei e sou hetero – só não sei dizer de qual sexo. Aos três anos troquei de casa. Antes, era uma casa grande com um quartão cheinho de beliches e eu tinha muitas tias. Cresci num apartment, em meio a dengos e dengues e outros bichos e bichas. Era uma criança normal – ao menos pensava que sim.

Estudei numa escola particular com todos os requififes e luxinhos da classe média alta. A cada três meses, durante as aulas específicas de origami, chamavam alguns para uma entrevista com a psicóloga do colégio. Não sei o porquê, mas sempre fora chamado. Pelo tamanho do pé, eu imaginava que o pinto dela fosse bem menor do que o meu.

Os meus dramas começaram quando eu quis aprofundar os meus conhecimentos acerca de um objeto de consumo, cujas embalagens multicoloridas infestavam meia gôndola da seção de higiene pessoal do hipermercado. Havia abas e geis demais para o meu hipossaber. Foi assim que conheci o meu primeiro amor, o Doutor Silverberg. Meus relatos foram se tornando propositalmente truncados, pois além dos "boa-tarde" e "até a próxima", era a única forma de me deliciar com aquela voz máscula repetindo "continue".

Hoje estou me formando em Direito e namoro uma colega. A Gilmar é muito sensual e compreensiva. Adora a minha sensibilidade poética e a cama é altar do mais suntuoso culto ao prazer. Ela faz uma cara engraçada quando, no instante mais crítico, satisfaz um capricho e sussurra guturalmente um "continue!" em vez do "não para!". Não sei bem como nos apaixonamos, mas a coisa rolou depois que ela me pedira sugestões para dois presentes que brindariam o segundo domingo de um mês de maio qualquer.

Temos planos para o futuro. Montaremos banca especializada em Família e acionaremos o Estado.