terça-feira, 14 de abril de 2009

Xico



                 Domingo morreu Xico Stockinger, oitenta e nove, escultor. Austríaco, naturalizado brasileiro, preferiu os Pampas. Quem conhece? Ouvi alguém dizer 'eu'? Ah, você é porto-alegrense, não é? Ou, no mínimo, gaúcho.

                 Xico possuía a genialidade do essencial. Fundia seus próprios bronzes num cadinho de estimação. Gostava de explanar o processo, invariavelmente com um 'não tem mistério'. Mimado pela burguesia, vivia em casarão da Zona Sul, vizinho das vaidades quais não cultivava. Ao contrário, elas é que vinham paparicá-lo — talvez um generoso desconto. Eis a diferença: burguesia pechincha, aristocracia concede. Não é incomum encontrar um Stockinger, um Prado, na antessala de patuscos advogados.

                 O tosco ateliê constituía verdadeira afronta à distinção internacional e, na espontaneidade dos simples — mas raros — diria:
"— Vi, numa revista, uma reportagem sobre a baixa estatura de um povo, causada pela fome. Aí fiz esse gabirus de um metro e trinta, tamanho natural. O artista tem que mostrar essas coisas, isso que acontece por aí e ninguém faz nada".

                 A paisagem da urbe muda. A todo instante, a ganância dos construtores quer, ávida, impor. Agora é um 'Pontal do Estaleiro', grandes prédios, shopping centers e unidades habitacionais de luxo. Que façam. Há de faltar Stockingers para decorá-las.

                 Não o conheci, pessoalmente. Por certo não lhe acrescentaria nada e isso me deixa a consciência tranquila. Mas sentirei a falta. Não da obra ou do autor. É a inquietude de saber que, lá, num galpãozinho, entre as treze e as dezoito horas — vinte, no verão — morre, aos poucos, mais um pouco, Porto Alegre.

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