Por uma cidade em que bares escaldavam copos-martelo pro cafezinho — era fria. Por uma metrópole onde bairros corriam admirados ao palácio — era feudo. Por um porto cuja praia sorria pra rua — e nem era. Por uma pasárgada que recebeu alucinado Neroy poetando luzes nos muros. Médico fora, um dia.
Onde andarás, Porto Alegre?
N.A. — Neroy era um morador de rua demente que escrevia poemas a carvão nos tapumes de alguma construção e os assinava assim. Versavam sempre sobre o mesmo tema: faróis de automóveis. Não era agressivo e, quem prestasse atenção, veria por entre o descuido da sua aparência uma fisionomia aristocrática. Via-se, pela escrita, possuir cultura. Personagem da lenda urbana, conta uma versão tratar-se de um médico que enlouquecera após a morte da esposa. Dedico-lhe estas parcas linhas como forma de agradecimento pelas lições que, alheio, mo ensinou: do amor extremado, da sensibilidade acima da razão e da poesia que nem aos loucos abandona.
Nenhum comentário:
Postar um comentário