segunda-feira, 11 de julho de 2011
Junho em Julho
Daquela vez
que passei um mês
encarangado
Naquela vez
que cerrei o punho
num round de Junho
descontinuado
Aquela vez
- meu bem -
só acordei em Julho
Orgulho estirado
Lábios cortados
Nocauteado
segunda-feira, 2 de maio de 2011
sábado, 16 de abril de 2011
Ouço-te
Ouço-te,
lágrima plúvia
haurida pela terra
ardente
Tênue lamento
que me vaza em vento
o acorde outonal
Não mais me aprumo
nas liras
de antigamente
[o resumo daquilo
que foi e será
só da gente]
Hora imprecisa
tangida
minuto a minuto
Silencia
o murmúrio
das tautologias
terça-feira, 15 de março de 2011
Diz-Que-Diz-Que
A Norma
Falou pra Vera
Que falou pra Lia
Que falou pro Mundo
Da forma
Que reverbera
Dessa mania
Do dizer rotundo
São belos
A língua de fora
O coxão de dentro
Nos cantos da boca
Castelos
Que vão embora
Num mesmo epicentro
De areia barroca
domingo, 20 de fevereiro de 2011
eBook Nuances
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domingo, 23 de janeiro de 2011
Adeus a Deus
Caminhávamos lentamente pela calçada esquerda da Duque, subidos do Gasômetro em mira à Catedral. As baforadas da estação quente fustigam, mas o entardecer porto-alegrense se oferece em poema arrefecedor. Íamos, as nossas sombras se medindo, sempre que se descuidavam as das árvores.
Havia uma discussão em pauta, conduzida com leveza zombeteira. Quem deveria andar pelo lado de fora, junto ao meio-fio? Por maior existência, se impunha com este argumento. Em tom cavalheiro discordaria, pois assim me foram dadas as damas no trato.
– Ah, me tens e me tomas por tua mulherzinha?
– Te fizeram livros dignos de corar Clarices. Sucumbe, então, à tua fama!
As palavras iam sumindo, em volume e compreensão, em meio à algazarra dos pardais se aninhando para o pernoite. A escolta das árvores também cederia, respeitando as colunas do Palácio e o oblíquo paredão da Assembléia. Mais adiante, a Matriz. Foi quando nos despedimos.
– Fico por aqui. Vou dar uma espiada no que andam falando de mim – e adentrou.
Vi seu vulto sumir. Cortei pela praça, desci a rua da Ladeira e ri, comigo mesmo: esse cara não existe!