Caminhávamos lentamente pela calçada esquerda da Duque, subidos do Gasômetro em mira à Catedral. As baforadas da estação quente fustigam, mas o entardecer porto-alegrense se oferece em poema arrefecedor. Íamos, as nossas sombras se medindo, sempre que se descuidavam as das árvores.
Havia uma discussão em pauta, conduzida com leveza zombeteira. Quem deveria andar pelo lado de fora, junto ao meio-fio? Por maior existência, se impunha com este argumento. Em tom cavalheiro discordaria, pois assim me foram dadas as damas no trato.
– Ah, me tens e me tomas por tua mulherzinha?
– Te fizeram livros dignos de corar Clarices. Sucumbe, então, à tua fama!
As palavras iam sumindo, em volume e compreensão, em meio à algazarra dos pardais se aninhando para o pernoite. A escolta das árvores também cederia, respeitando as colunas do Palácio e o oblíquo paredão da Assembléia. Mais adiante, a Matriz. Foi quando nos despedimos.
– Fico por aqui. Vou dar uma espiada no que andam falando de mim – e adentrou.
Vi seu vulto sumir. Cortei pela praça, desci a rua da Ladeira e ri, comigo mesmo: esse cara não existe!
A narração, feita com esmero e lirismo, mantém o leitor preso na curiosidade do fecho, que é sensacional. Conto conciso mas preciso (e precioso).
ResponderExcluirAbraço!
O sucinto e cativante conto, me deixou sem palavras, então resumo A-DO-REI!!!
ResponderExcluirEu só posso dizer o que disse ontem: "Adeus, orkut!" Mas vc continua sendo meu pai espiritual das letras e quero ouvir suas críticas no meu blog... rs
ResponderExcluirVou ler seu texto agora... hehehe
Beijos.
Realmente esse cara não existe e nem uma mulher que fala de Clarice assim, toda cult... rs
ResponderExcluirBom conto! Apesar da realidade fictícia demais para a vida brasileira goiana... hehehe
XD