terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Casais

                 A excursão partira pontualmente à meia-noite. Apesar da chuva, os passageiros, boa parte casais, mantinham-se animados. Percurso conhecido, noite mal ou pouco dormida teria compensações num auspicioso café ao imponente hotel. O balanço da suspensão a ar e o acirramento dos pingos minavam resistências. Aos poucos, luzes individuais foram se apagando. Sem mais atenções a dispensar, cruzei cuidadosamente o corredor e me aboletei na cabina.

                 Viegas já se conformara. Teria parceria por, no máximo, uns trezentos quilômetros ou uns cinco cigarros. A boléia era camarim. Lá, me permitia despojar das conveniências de guia e usufruir privilegiada visão, adjudicando-se permissividade: fumar.

                 Rodávamos perto de uma hora e passar uma flanela úmida no pára-brisa que condensava era um mínimo gesto de cordialidade. Enquanto o fazia, não percebi que engatava-se um luzidio trem vermelho. Repentina redução de marcha me trouxe à estrada. Passamos ser mais uma conta daquele imenso colar. Três minutos, cinco... Dez e nada. Acidente. Resolvi olhar os passageiros, transmitir.

                 Ao cabo de meia hora decido colher alguma informação. Uma jaqueta de náilon e um boné improvisariam proteção. Viegas adivinhara. Morte no choque frontal entre dois automóveis. Voltei aos passageiros e amenizei a tragédia. Quase em uma hora a estrada daria os primeiros lentos sinais. Ao lado, cercado por patrulheiros e curiosos, jazia um dos carros.

                 Chegou-se em Piratuba ainda no horário habitual para o café. O esplêndido raiar predispunha dissipar alguma desvirtuada impressão. Ainda pela manhã seguimos para o parque das águas. A tarde aconteceria solta, modorrenta. Curtir o hotel, dormir, conhecer o lugarejo, jogar boliche. À noite, até baile fora descolado.

                 Enquanto observava ou atendia solicitações, me veio imagem da bem-querida. Os casais, em grupos ou mais reservados, estavam bem. Bem-humorados. Alegres e felizes. Quem os visse estimaria as bodas sucedidas. O desastre fora comum. Chuva, imprudência, alguma bebida, talvez. Nunca ouviriam por mim que, no banco de trás do Chevette, esparralhara-se um vestido de noiva.

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