sábado, 17 de julho de 2010

Inexplicável

Precatando-me com plausível, seguro e confortável distanciamento daquilo que se possa auferir por filosófico, me arrisco a afirmar que este vocábulo caminha sob bruxuleante luminar, fadado a figurar nos alfarrábios da ignorância.

A Literatura ministra a pílula do inexplicável, recobrindo-a com insuspeitos auríferos de quilate hermético ou idiossincrásico. Resta saber, diria um experto ourives, se a peça fora mergulhada em fundição ou apenas revestida por delgada folha do puro metal.

A sabedoria popular ensina que explicações são devidas, tão somente, aos circunspetos delegados da Polícia ou a truculentos porteiros. Os primeiros as tomam a termo, as lavram para ulterior apuro. Com admirável pragmatismo, os últimos solvem.

Na caserna, o jargão consolida: o que se justifica não se explica. É uma visão positivista, sem hesitações. A dúvida pendurar-se-á na conta do imaginário. Do metafísico e invisível pelotão, quando, nas trocas de guarda encobertas pela neblina que vai da hora zero ao alvorecer, era possível pressenti-lo em cadência de coturnos se estancando diante da gruta. A casamata, que outrora abrigou paiol, cuspira seu conteúdo, dizimando a guarnição.

Saiamos, pois, desta parva névoa. Dirá, o experimentado alopata, que tudo o fez, nos limites da cognição psiquiátrica, para a cura. Que o incurável, o é, por inexplicáveis disfunções sinápticas. Ora, confesse-o, então, que, insipiente, ainda não alcançou determinar causa com precisão. O inexplicável, meu caro doutor, adjudique-o ao simplório diagnóstico, enquanto ainda busque com o quê prognosticar. Não é da Natureza se fazer passar por desordenada naquilo em que a inteligência ainda não encontrou a ordem?

Dia haverá que destruiremos este Mundo. Sim, este e, talvez, outros. É da imponderável e incógnita bioadversidade. É, ainda, do inexplicável.

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