sexta-feira, 17 de julho de 2009

Mantra

(que me perdoem os gimnofóbicos)

Teta, teta, teta
Tetragrama, teragrama
Terapeuta da chupeta

Eta, eta, eta
Passa a vara nesse lombo
Pau rangendo a carreta

Meta, meta, meta
Metamais, metanóis
Metamórfica punheta

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sala Limpa

                 Corpo banhado, a fibra do macacão descartável pinicava a epiderme. O percurso entre a ala residencial e a unidade de projetos não levaria mais do que dois minutos, a pé. Prefiro o baby-sitter, um carrinho elétrico que todos nós, aqui, no complexo, temos. Arrastam-se quase cinco minutos... Suficientes para inalar. Com a mão esquerda ao volante, a outra bem cambiaria a marcha cardíaca. A transparência da noite permeia-se de lúmens, transpassando o firmamento da alma.

                 De tão uniforme, a nata asfáltica amalgama-se aos elastômeros, deixando leve rastro audível, só um cricrilar oriundo das aletas do rotor. Estanco à vaga mais próxima do acesso principal e interrompo a corrente. Autômato, cruzarei o saguão. O vigia, ao perceber-me vulto, esgueira um olhar de canto, que logo subiria ao relógio, quedando, redirecionado, ao filme. Passo rente e lhe escapa um 'noite, doutor', qual retribuo, mínimo meneio.

                 Descalço-me e dispo o macacão, que vai para o incinerador. O corpo nu será recoberto, dessa vez, pelo avental, pela toca, pela máscara e pelos pares de pantufas e de luvas da embalagem esterilizada. Prossigo e alço a íris ao dispositivo de reconhecimento. Abre-se o primeiro estágio da porta tríplice; avanço. O comando fecha a primeira seção e vaporiza o composto que aniquilará bactérias, liberando a passagem para o próximo. Um passo e meio me colocam ao centro do círculo onde receberei uma descarga ionizante e a varredura gama. A leitura digital aprova o meu status. Adentro, enfim, a sala.

                 É preciso ordem. É preciso ânimo e convicção. É preciso máxima assepsia para sofisticar a eficiência da dejeção eletiva.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Do Filme da Vida

                 Não importa se você aconteceu em fotogramas de finos grãos de prata imersos no celulóide ou se os registros não mereceram nada mais do que invisíveis quadrículas digitais, quais não resistiriam a uma pretensa ampliação. Tenha em mente que, ganhando ou não o Oscar, de qualquer forma, não irá tocá-lo. Provavelmente, esta última sessão terá um público recorde, jamais alcançado, por exemplo, nos seus aniversários. É da vida. Amém.

                 Mas esforce-se para manter um sorriso congelado, para que aqueles do seu bem-querer se sintam confortados, e, sobremaneira, para que a banda podre fique bastante cismada. É do Além.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Prenúncio

                 Aquilo me angustiava, uma nesga da janela sequestrando atenções, sem relampejo. Além dos losangos do gradil, o retalho enquadrava o canto da velha casa. Diagonais cinzentas, opondo-se por cima das caiadas paredes. Nenhuma brisa balouçaria as folhas do limoeiro, naquela modorra. Mas o verde teimava esconder sombras. Sombras de lusco-fusco. Sombras da nostalgia daquilo que nunca acontecera. O ar pesava de paz. Que visita, antes de se debulhar.

                 Se quisesse fixar, talvez não supervisse o corpo franzino esgueirando-se por detrás das folhas. Nem, por debaixo delas, os pés desnudos, que amassaram a grama sem farfalhar. Sentia-me espreitado e desabava num silêncio de não desfazer. Deixei-me. Fluir, encontrar.

                 Imóvel, a timidez das pupilas contrastava com desejos castanhos na íris. Dos braços esguios pendiam desatitudes, e dessa inanição emanava a premência. Segredei as palmas na eletricidade das minhas e as polaridades se completaram nos lábios.

                 A torrente desceu. Pediu abrigo. Depois, só o repenicar da garoa.