quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Eu Perciso de Dinhero
Eu perciso de dinhero
Meu amigo, companhero
Eu perciso de dinhero
Padeci o ano intero
Tou deveno pro livrero
Eu perciso de dinhero
Loteei o meu faquero
Penhorei o cabidero
Eu perciso de dinhero
Dias despois do primero
Casa própia é já putero
Possa eu ser o portero
sábado, 18 de dezembro de 2010
Auto de Natal
José seguiu o cometa
Nada de novo no drama
Trocou o pó pela lama
O jegue pelo trem
José não é ninguém
Nem nunca será
Nas noites de saravá
Se afoga na marafa
José bom de tarrafa
Ainda pesca estrelas
Quisera assim retê-las
No palco da jangada
José veio do nada
Do nada também veio o dia
Que à noite lhe trouxe Maria
E ao barraco alguma cortina
José nem imagina
Que os fogos da favela
Anunciam outra mazela
Da inocência parida
José quer outra vida
Ajoelha, acende vela
Essa pálida aquarela
De longe inspira magia
É José mais Maria
O zinco fazendo presépio
Um irônico obséquio
Da solércia do destino
José, ex-nordestino
Não crê em seres alados
Com o oitão municiado
Dá busca ao desafeto
José, carioca sem-teto
Despeja a fúria em dolo
Na traição não há consolo
Que habite este planeta
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
ENEM que eu queira...
Sabe, eu até gosto do Lula. Não no papel presidencial, até porque de papel, mesmo, creio que ele se limite ao de jornal. Quando muito, ao higiênico. Mas é um sujeito bem intencionado. Aí estão o sistema de cotas e o ENEM, dois métodos para burlar a metodocracia aristocrática do Vestibular.
Um dia já percorri este funil e obtive êxito. Sem cursinho, sem privilégios raciais e, muito menos, o aval da Polícia Federal. É, porque, querendo ou não, quem se beneficia de crime, criminoso também o é. Haja vista a falta de controle e seriedade, os calouros provindos deste beneplácito figuram, no mínimo, na ala da suspeição.
Nesse clima policialesco, terei que confessar que também fui apadrinhado. Tal qual alcaguete, declino o nome dos meus tutores: Ilka Costa Ritter, Dino Del Pino e Tapir Waterloo.
– “Quem são eles?” – e recebo um chute no saco da paciência.
– “Foram meus professores de Português no II grau” – respondo amuado.
– “Pagou pela aprovação?” – e me enfiam pontas de bambus por debaixo das unhas da mão esquerda, para que a outra ainda possa assinar a confissão.
– “Não, não paguei. Estudei em escola pública” – gemendo, procuro manter a altivez.
Entreolham-se, num misto de espanto e dúvida.
– “Quando foi isso?” – já dependurado pelos pés, o botijão envolto no cobertor atinge a região lombo-cervical, último reduto da minha idoneidade.
– “Na década de 70...” – as fricativas e oclusivas já saindo africadas, junto ao fluxo sem trema.
De repente param e ficam me observando. Uma moça com cara de Erenice, que já preparava os eletrodos, é dispensada. Cortam a corda e deixam que me esborrache.
– “Vai pra casa, sem-futuro! Tu não tem a menor chance de ser nada nessa vida. Nem presidente”.
Saio, primeiro me arrastando, depois capengueando. Quase um símio. Antes de cruzar o portal da liberdade, me escoro ao marco. Um istmo sináptico me advém: "E nem quererei”.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
O Filó da Sofia
Se existo
Porque penso
Ao meu ego
Não resisto
Penso pouco
Louco penso
Pouco tenso
Logo nego
Sendo louco
Não existo
domingo, 5 de dezembro de 2010
Jurupiter em Conjunção Carnal com
Vênus
Vênias
Vaivém
Vulvar
Marte
Malas-arte
Mortal
Malabar
Saturno
Soturno
Seu turno
Suar
Mercúrio
Mergulho
Mais puro
Melar
Plutão
Platão
Poltrão
Palatar
Netuno
Na tuna
Noturno
Nicar
Urano
Urino
Uterino
Ulular
Terra
Terror
Tenso
Trottoir