Sabe, eu até gosto do Lula. Não no papel presidencial, até porque de papel, mesmo, creio que ele se limite ao de jornal. Quando muito, ao higiênico. Mas é um sujeito bem intencionado. Aí estão o sistema de cotas e o ENEM, dois métodos para burlar a metodocracia aristocrática do Vestibular.
Um dia já percorri este funil e obtive êxito. Sem cursinho, sem privilégios raciais e, muito menos, o aval da Polícia Federal. É, porque, querendo ou não, quem se beneficia de crime, criminoso também o é. Haja vista a falta de controle e seriedade, os calouros provindos deste beneplácito figuram, no mínimo, na ala da suspeição.
Nesse clima policialesco, terei que confessar que também fui apadrinhado. Tal qual alcaguete, declino o nome dos meus tutores: Ilka Costa Ritter, Dino Del Pino e Tapir Waterloo.
– “Quem são eles?” – e recebo um chute no saco da paciência.
– “Foram meus professores de Português no II grau” – respondo amuado.
– “Pagou pela aprovação?” – e me enfiam pontas de bambus por debaixo das unhas da mão esquerda, para que a outra ainda possa assinar a confissão.
– “Não, não paguei. Estudei em escola pública” – gemendo, procuro manter a altivez.
Entreolham-se, num misto de espanto e dúvida.
– “Quando foi isso?” – já dependurado pelos pés, o botijão envolto no cobertor atinge a região lombo-cervical, último reduto da minha idoneidade.
– “Na década de 70...” – as fricativas e oclusivas já saindo africadas, junto ao fluxo sem trema.
De repente param e ficam me observando. Uma moça com cara de Erenice, que já preparava os eletrodos, é dispensada. Cortam a corda e deixam que me esborrache.
– “Vai pra casa, sem-futuro! Tu não tem a menor chance de ser nada nessa vida. Nem presidente”.
Saio, primeiro me arrastando, depois capengueando. Quase um símio. Antes de cruzar o portal da liberdade, me escoro ao marco. Um istmo sináptico me advém: "E nem quererei”.
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