quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A Divina Invisibilidade dos Anjos

                 As lides cibernéticas escassearam e tenho andado acordando mais cedo, vendo o sol triscar o horizonte. Poesia do amanhecer, lenta agonia do fenecer.

                 Deparei-me com o sabiá estufando o peito alaranjado, de frente pro holofote, num galho caduco do segundo andar do cinamomo. Fitou-me, talvez desejando bicar o chimarrão, que nem bebo. Depois, veio outro. Pulou no pilar do muro e cruzou a fronteira, indo parar, acintosamente, um andar acima.

                 Cismei com aquela mobilidade, que independe da cotação do dólar ou da gripe suína para alcançar espaços cada vez mais longínquos. Que não faz check-in, nem aquele barulho chato de boiada se embretando pelos fingers. Que não fica catando o movimento das comissárias, tentando adivinhar a minhoquinha que será servida, enquanto turbulências sacodem triplos poleiros.

                 Pudera ser você, canoro penugento, e migrar sem compromisso. Voar solo, de dez em dez minutos, atravessar rios sem usar pontes, beliscar pitangas e me saciar com gotas. Leve, econômico. Quase livre.

                 Os pássaros sumiram. Ao alcance dessa curta visão, restou um corpo acabrunhado. Que absurdo! Dá nem pra imaginar essa carcaça alada. Ridículo!

                 Estatelei-me na realidade. Compreendendo, de vez, a divina invisibilidade dos anjos, acendi um cigarro e fui procurar promoções na Internet.

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