sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Síndrome dos Ovos


                 Ao fritar um ovo, me acudiu repentina ilação: não compreendo certas medidas. Por que horas são contadas às dúzias? Mas não é perfeito o sistema decimal? Ah, não me venham com seus alfarrábios eruditos! certo, concordo que uma dezena de ovos, além de aumentar o número de sílabas e diminuir o sobreganho, não alcançaria esta subliminaridade associativa que empresta ao produto galináceo a concepção duodecimal. A embalagem estandardizada com dez unidades até ficaria mais simpática, mais portátil. Em contrapartida, com um olho no mercado single e outro na pobreza, as granjas teriam no design um torto problema para a meia-medida.

                 Refletindo profundamente nas elevadas questões gregorianas do calendário e sobre os convivas da Santa Ceia, voltei à frigideira para encaçapar o ovo da vez. Não pensem que é tão simples assim. Eu olho a caixa e ela me olha. São seis ovos contra cinco dedos. Escolho o do meio, na primeira fileira. Cada fritada lança novo desafio. Há que se manter simetria. Da próxima vez será o do meio, da fileira posterior. Depois, numa jogada sutil, desloco um dos remanescentes dianteiros para completar a linha da retaguarda. Aí fica fácil deduzir que na seguinte ocasião alguns passos serão repetidos.

                 Enquanto o ovo frita, sigo meditando: e se fossem somente cinco ovos? Num esforço otimista, visualizo um ovo em cada canto e um centralizado. Tudo bem, ainda tem jogo. De repente, pânico total: e se algum engraçadinho cismar que o padrão deva ser quatro? Tenho medo de reeleição...

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