quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Perdas e Danos

                 Riam-se, enquanto o samba reforçado fazia roda, sede à flor, frenética. Um a beijou, outro já deslizava o zíper dos jeans que ela, bem apertados, vestia. Desincumbiram-na da blusa. Mais risadas: seu corpo passara a ser o rodízio. Alternavam-se lábios e uma dezena de mãos percorreria por todos os vieses, arriando a calcinha, soerguendo o sutiã. À sessão, itinerante, compareceu uma câmera — carnes vilipendiadas pela mal focada nudez.

                 Chão de cimento queimado, o pinnus vagabundo da cômoda, por tudo havia o roto dos trapos. Tirados. Atirados. Até restarem, tão somente, cuecas e lingerie. As camas — havia duas — juntaram-se, resguardando estreito vão. Totalmente desnuda, fizeram-na se agachar, pernas e braços em pilares dessa ponte.

                 Assomou histeria:

                 — Íssu, íssu! Dedunucú! Dedunucú! Dedunucú!

                 Mesmo querendo fodê-la, a extremidade distal lambuzada no óleo de cozinha explorou-a com certo vagar. Introduzida trecho a trecho, falangeta, falanginha, falange, fez-se de alargador tribal, instantânea consequência.

                 — Aaai, taduênu! Aiêe! Aiêe! Auf, auf, auf...

                 A gemeção estimulou o sadismo com que passou a ser estocada, deixando o ar impregnado de óleo recém aquentando e merda. Aqueles lábios recortados na sensação ensejaram um pênis boca a dentro, que se avolumou e foi acolhido.

                 Os guris empurravam-se, brincando, disputando vez no folguedo. Um travesseiro encardido, ao chão, serviu a joelhos. Que genuflectiram, para que a fresta fosse lambida. De forma jocosa, olhos arregalados, a língua bastante estirada, clamando olhares de uma hilária aprovação.

                 Não era feia. Nem exuberante. Dezesseis? Dezessete... Não mais. Perfumosos, espalhavam-se fios por formas sem desvios, a brandura da tez contrastando com outros pelos em negrume. Que se deixavam fustigar.

                 Encaralharam-na. Foderam-na. Grunhia. Balbuciava. Pedia mais. Um a um, da vez; todos, de vez. Quando a ardência do fulcro enjeitou, o mais velho sentenciaria: "— Voarrombá". Escudeiros entenderam e, fiéis, seguraram. Isso ela não quereria e urrou quando a glande arremeteu, esgarçando. Seu conforto foi outras oito mãos e quatro bocas, de algum proveito ainda se servindo.

                 Os pixels registrariam a derradeira nuança: de pé, pernas anguladas, girou o delgado torso para alcançar o látex que ainda pendia. Retirando-o, ponta dos dedos, instou:

                 — Ô, cabeça dirratão, vê siácha, aí, minha calcinha. Tão dissacanági?

                 Recompôs-se com o que pode e saiu com ares de indignação, mente conturbada pela inadmissível perda. Nem percebeu o chute simulado, desferido com careta de desdém, em direção às nádegas.

                 Ainda tonta do desvario e da cachaça, uma voz concluía:

                 — Qui fubangada daóra, véi! Vaissivingá di namurádu, assim, no carai...

                 Deixando os asseclas rememorarem imagens do muquifo, o líder desceu à esquina para reassumir responsabilidades de ponto. Antes de guinar, ainda advertiu:

                 — Aí, ó: sexta, praquenquizé, tem mais! Mazé sem patrocim, tassabênu? A vadia mideu bêiçu, tá midevênu 'masparada...

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