quarta-feira, 18 de março de 2009

O Encarnador



                 Especializei-me em seduzir freiras. Não são os corpos que contam, mas a ilha proibida. Apresento-me à madre superiora com as superiores recomendações de outra madre: "Trata-se de profissional sério e competente”. De resto, mulher é mulher. Gosta de galanteio, segredo e poesia. Vasculho a vaidade e o pecado se apresenta. Pecado é a palavra mais erótica que conheço. Quando no diminutivo, causa furor uterino.

                 As celas são limpas e recendem à pureza. "Com licença, irmã. Posso examinar o toalete?” — adentro aliciando, serviço à francesa. Se ficar à porta, observando, é caminho. Conduzo as preliminares exigidas por aquela intimidade. Calmo, preciso, sem denotar força.

                 Faço valer o verbo. Sutis metáforas. Das curvas de um vaso. Da rigidez de um cano. Do intercurso hidrodinâmico. Sano, saro, limpo e atiço. Até tornar-me digno de um copo d'água. Que recebo com premeditado toque. Escuso-me em versificados goles. Sorvo e me deixo sorver.

                 Serei reconvocado. Serviço mal feito? Nada. Inadvertido, o relógio se deixara ficar. De pulso perfumado. De horas de imaginação. Mas é homem que adentrará.

                 A melhor parte são os arrependimentos. Beijamo-nos e abraçamo-nos e choramos de desesperos de culpa. Fazemos pactos de mútua punição. Rezamos penitências. Nus, no catre, ajoelhados, lado a lado. Meu sexo parece, também, querer rezar. Uma segunda bem dada e toda a ladainha de novo.

                 Então me afasto. Saudade que se incumba e haverá tarefa.

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